PENSAMENTOS

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A confiança


O dia estava nublado, ruas escorregadias e trânsito intenso. Passava por Botafogo quando avistei uma jovem com muitas malas. Pensei..... Aeroporto! Não deu outra. Parei, coloquei todas as malas e perguntei qual seria o aeroporto.
- Galeão, Sr. por favor! 
- Qual terminal senhorita?
- Terminal 1 Gol.
Engreno a marcha e saio ao destino. De repente! 
- Moço..moço! volta! esqueci o passaporte. Notei que minha passageira estava bastante ansiosa e nervosa. Voltei rápido. Ao parar na porta do seu prédio ela sai igual a um foguete. Fiquei no carro com toda sua bagagem e bolsa. Fiquei pensando na responsabilidade de ficar com tudo no meu carro e a confiança que ela teve em deixar tudo comigo, haja visto que nunca nos vimos na vida. Comecei a estranhar o tempo e a demora para subir ao apartamento somente para pegar um passaporte, já se passavam 10 minutos. Desci do carro  me dirigi ao porteiro relatando o fato e a estranheza da demora. Ficamos de papo por mais alguns minutos e o próprio porteiro começa a achar estranho a demora da moradora. Ele se propõe a subir até o apartamento para averiguar, pois a jovem não atendia sequer ao interfone.
Sobrou pra mim mais uma responsabilidade confiada pelo porteiro, tomar conta da portaria. O cara sobe, o carteiro chega, o medidor da luz, o entregador da farmácia, moradores e eu no meio da confusão congestionando a recepção sem saber os botões que precisavam ser apertados. - " Esperem aí que o porteiro já volta! dizia eu." A situação ficava cada vez mais apertada e estranha. O porteiro volta sem ter conseguido ser atendido também na porta. A moradora não respondia ou não estaria lá. Voltei pro meu carro e fiquei aguardando, ela teria que aparecer ou o caso seria de polícia.
Transportei esse episódio pro cotidiano de nossas vidas e fiquei pensando muito no sentido da confiança que depositamos em uma pessoa. Nos dias de hoje, aparentemente não se confia mais em ninguém, ou pelo menos em poucos. Mas há situações na vida que só a confiança é capaz de resolver uma questão, seja ela qual for; nos negócios, no trabalho, nos amigos, nas relações e nos sentimentos. Passamos por situações que precisamos nos jogar como essa criança na foto que se lança ao pai. Qual seria a decepção dessa criança se o pai não a esperasse quando ela se lançasse? Na cabeça dela não pairou nenhuma dúvida que seu pai à abraçaria. A pior coisa que pode haver numa relação de confiança é a dúvida. Quando confiamos em alguém não podemos deixar dúvida sobre isso. O contrário é a pior das decepções, pois quem se lança tem a esperança de encontrar à quem confiou, quebrar essa esperança é um ato de muita crueldade. 
Assim foi com essa passageira, que precisou e se lançou, confiou e teve a esperança de me encontrar quando ela voltasse. Quão seria sua decepção se ao voltar eu não mais estivesse! Assim são nossas vidas e nossas relações, um confiar e um se lançar constante, sabendo sempre que a possibilidade do engano e da decepção podem fazer parte do nosso cenário.
Após toda essa reflexão, não poderia deixar de fechar minha história relatando aos leitores o paradeiro da minha passageira. Não foi preciso chamar nem bombeiro nem polícia, sua demora se deu devido a uma grande crise intestinal; mas ela não perdeu o voo porque o piloto é bom....rs

Até a próxima.

Postagens populares

Quem sou eu

Minha foto
- Cientista Político - Graduado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO - Colaborador do ECOPOL - Núcleo de estudos econômicos e políticas públicas, nas relações entre Capital e Estado (Nelutas - UNIRIO)

Informe seu e-mail e receba nossos posts:

Delivered by FeedBurner