PENSAMENTOS

sábado, 25 de julho de 2015

Somos todos taxistas? Até quando? Anacronismo de uma classe a deriva




 Apos o protesto dos táxis do Rio de Janeiro na data de ontem, vale a pena recordar uma pequena cronologia.
O sistema de táxi na cidade do Rio data do séc XIX. Os primeiros a prestarem o serviço na cidade foram os portugueses e espanhóis. Houve época que ninguém queria dirigir táxi, era vexatório. Muitos ex-presidiários assumiram a função, podendo ser daí a origem de algumas descriminações que os taxistas sofreram no passado e refletem até hoje de alguma forma direta ou indireta.

 Para entendermos melhor o foco desse protesto, será necessário mexermos em algumas feridas.
Em época não muito recente, travou-se um debate se o serviço de táxi era público ou privado?
Várias foram as opiniões divergentes. Mas, se o protesto de hoje foi contra uma empresa privada que está irregular invadindo o serviço do táxi, está claríssimo que o serviço de táxi é PÚBLICO.
Em sendo público cabe uma reflexão: Se somos todos taxistas, porque existem exclusividade e comércio em pontos? Se somos todos taxistas porque só alguns privilegiados podem parar nos aeroportos e rodoviárias? Se somos todos taxistas, porque da existência hoje de várias entidades disputando a representação da categoria? Se somos todos taxistas, porque cooperativas fizeram por tanto tempo reservas de mercado e comércio de títulos caríssimos dificultando a entrada de novos colegas gerando insatisfação do cliente por falta de atendimento e "queima de corridas"? Se somos todos taxistas, porque pagar propina para atendermos eventos noturnos com exclusividade de alguns?
Se somos todos taxistas, porque permitimos a continuidade da exploração da diária do auxiliar que sai de casa devendo R$200,00 e salvo exceções, estão mais propensos a não prestar um bom serviço ao usuário devido a pressão da diária? Se somos todos taxistas, porque o comércio paralelo de permissões? Se somos todos taxistas porque não pensar num projeto único nacional? Se somos todos taxistas, porque resistir a uma melhor qualificação de ingresso na profissão e manter treinamento contínuo? 
Essas e outras perguntas são respondidas pelo fenômeno "aplicativo de celular".
São eles os responsáveis pela revolução que deve acontecer com a categoria e na categoria. Ou a categoria se conscientiza que é preciso se profissionalizar ou os profissionalizados tomam o mercado da categoria por um único motivo. Eles tem grana! simples assim. E onde tem dinheiro envolvido lá está o poder público de olho e os políticos de plantão. Um quer arrecadação, outro quer o seu voto para arrecadar depois.
Falar do poder público nesse caso é muito fácil. Ele pode regular, conceder, fiscalizar e cassar a qualquer momento; mas também pode causar o caos e usar da máquina administrativa para manipular toda uma categoria. Algo semelhante não fora feito no Rio? Alguma vez na história da praça carioca viu-se tanta fiscalização nas ruas? Quem implantou código disciplinar? Quem apoiou e bateu palma? Qual foi a emissora de TV e rádio que deu palanque para tal feito? Foi assim na secretaria de transportes municipal e não diferente no DETRO. Alguns que tem essa consciência, cometeram o descalabro de jogar água e expulsar uma repórter do evento, ato totalmente desaprovado! Não é por aí o caminho. Há necessidade de se manter o respeito pelo profissional repórter.
Está sendo boa a experiência de governo e município governados pelo mesmo partido? Existem aspectos positivos com a parceria com o governo federal que não é do mesmo partido, mas há aspectos negativos nisso também. E muitos! entre eles a hegemonia de poder absoluto que gera o totalitarismo.
Percebam que toda operação é de cunho arrecadatório. Multar, multar e multar isso é o que importa.
O custo das Olimpíadas está altíssimo e a entrada de empresas e serviços estrangeiros é inevitável, por isso o Uber aí está e será difícil tirá-lo. O projeto tem capital da Google que tem interesse no futuro de  implantar o carro sem motorista totalmente automatizado que já está em teste em Palo Alto na Califórnia.
Estamos portanto, diante de um fato anacrônico. De um lado, passageiros que apoiam nossa causa; de outro, àqueles que reclamam dos serviços e querem ter o direito de escolha. Muito desses passageiros reclamam de certas posturas do taxista que escolhem corridas, não querem subir Sta.Tereza, perguntam pra onde é, dão tiro ( preço fora do relógio), som alto no carro, não gostam de ligar o ar, cheiro de cigarro etc. Precisamos entender que há público para todo tipo de serviço e todo tipo de serviço diferenciado deve ter seu preço diferenciado. Não estaria na hora de classificar os táxis e darem o direito de escolha a ambos? Não é justo também ao taxista que presta serviço a população circulando com seu carro nas ruas esburacadas do Rio elevando seu custo de manutenção com componentes da suspensão, o alto preço do gnv e da gasolina, competir com alguém que fica parado esperando ser chamado!. Diriam alguns. Eles tem isenção de IPVA! Sim, tem, mas já viram quanto se paga num táxi ex combatente, só porque foi amarelo? O preço é lá em baixo! Quanto ao particular que fará o mesmo serviço e não tem o referido desconto, terá o preço do seu veículo no valor de mercado. Muitos prefeririam comprar um velho táxi rodado e bem conservado, seria mais honesto. 
Nesse caso o poder público pode intervir e até pensar numa padronização dos táxis como foi feito em Nova York e na Inglaterra. 
Fatos curiosos, positivos e negativos marcaram o protesto de 24/07/15 o que, o diferenciou muito do protesto do movimento Diárias Nunca Mais em 2000. Em 2015 pouco se viu no protesto, os táxis especiais legalizados da cidade do Rio, algo no mínimo estranho deixar a sobrecarga do protesto à cabo dos táxis comuns, uma vez que o serviço Uber iniciou-se nos carros de luxo.
 Táxis de outras cidades vieram em apoio, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte foram umas delas. A presença do presidente do Sindicato dos Taxistas autônomos foi tão marcante pelo desserviço histórico prestado para a categoria que foi recebido a vaias. Outro que foi vaiado foi o responsável por um jornal e uma associação de assistência ao taxista, que tentou se eleger deputado e teve problemas no registro do TRE. O carro de som estava lotado de personalidades, lideranças de vários setores da praça e seus respectivos representantes. Digno da verdadeira democracia! Todos puderam falar! A ordem do dia era UNIÃO DE TODOS! A pauta de revindicações era extensa. Os secretários de transporte do município e do estado estiveram presentes, um deles na sua gestão municipal,  alterou a cor dos táxis especiais para preto! cor preferida dos carros Uber.
 O problema não é só a Uber. Ela é um dos problemas. Os taxistas querem saber das AUTONOMIAS! Cadê minha permissão ou autorização? Se tem serviço pra usuário da Uber, se tem frota de carros alugados para atender a prefeitura, se empresas privadas estão usando carros executivos para atender sua necessidade, sinal que há demanda! 
Há...mas falar em dar autonomia para o taxista é muito delicado. Depois que a prefeitura permitiu colocar dois auxiliares de táxi em cada permissão pagando diária para o permissionário!!!! o assunto é extremamente delicado. O fenômeno é nacional. Em toda cidade do Brasil tem um auxiliar pagando diária pra alguém. A velha prática do homem explorando o homem está aí muito bem representada. Como parar isso? Como coibir uma prática decenária? Como não permitir que concessões de táxi não sejam moeda de troca política nos pleitos municipais? Como coibir a venda dessas permissões? 
É algo tão difícil quanto barrar a Uber. Em 2000 a figura do taxista auxiliar foi extinta pelo recém falecido prefeito Conde que apoiou o movimento Diárias Nunca Mais liderado por Ivan Fernandes e João Batista com apoio do vereador Pedro Porfírio. A lei 3123 foi perfeita. Os pouquíssimos auxiliares que não se enquadraram nela, ao completarem dez anos de praça ganhariam sua permissão. 
Mas... os interesses e práticas políticas já citados, não permitiram sua continuidade. A velha prática voltou com a posse de César Maia. A grande diferença dos protestos de  2000 pra 2015 é que em 2000 havia uma só cor de camisa, uma só liderança e um só objetivo; a liberdade e a conquista da permissão. Hoje assistimos um protesto com várias camisas, várias lideranças e várias revindicações, a principal delas, a pirataria da Uber e a manutenção do mercado. Vale lembrar que num movimento com vários caciques, vai faltar oca pra índio e índio sem oca aceita qualquer lugar pra ficar. 

Hoje o estado do Rio de Janeiro conta com um sindicato dos motoristas de empresas e auxiliares de táxi que esteve presente no evento. É um sindicato que surge para tentar ajudar a configurar várias distorções de relacionamentos entre permissionários e seus auxiliares. É de extrema importância que os auxiliares fortaleçam esse novo sindicato que trás uma proposta nova, totalmente diferente do velho sindicato dos autônomos.

 Outro fato relevante a ser lembrado são as ações na justiça impetrada pela Abrataxi. A estratégia jurídica adotada pela associação trouxe algumas vantagens do tipo: As permissões que eram intransferíveis da lei 3123 passaram a ser transferidas, depois que foram travadas as transferências de permissões antigas e de viúvas. A proibição da inclusão de novos auxiliares com a não possibilidade do permissionário rodar enxugou a praça e o faturamento dos taxistas aumentaram na época. Essas ações incomodaram muita gente! Há um flerte de amor e ódio por parte de muitas pessoas com relação a Abrataxi, principalmente que sua ação de maior importância foi o pedido da licitação das permissões de táxi. Ação julgada em mérito favorável e suspensa pela presidene do tribunal por acordo político. Tais feitos acarretaram o fechamento da smtr por mais de um ano, o que desagradou muito aos grupos que vivem da velha prática, que pediam união de todos no evento mas, curiosamente a única que não era lembrada nem convidada a participar dessa união é a dita associação. Muitos deles que lutaram contra ela se fizeram presentes no evento do dia 24/07 na luta contra a pirataria.

  Falando em piratas, cabe uma reflexão pois a lista é extensa. Tem cd pirata, uísque pirata, bolsa, celular, camisa, tênis e milhões de outros itens. A pergunta é: Existe o consumo? existe a demanda? O estado tem tentáculos suficientes para manter fiscalizações permanentes?  Os mesmos que defendem o Uber e criticam os táxis também consomem pirataria no camelô da esquina. Aliás ... acabaram os camelôs no Brasil?  É necessário uma parceria e integração da categoria com o poder público concedente uma vez que já somos uma profissão regulamentada por lei federal. Se essa parceria não se formatar logo, melhor será retirar do poder público sua gestão e deixar a própria categoria se auto regulamentar. Caso isso não ocorra o sistema pode entrar em colapso, sair do controle e protestos mais violentos poderão ocorrer, o que não é bom pra ninguém.

Uma coisa é certa. Com Uber ou sem ela, com aplicativo ou sem ele, a tecnologia chegou e nos forçou a mudanças de paradigmas e quebras de tabus. Todos estão convidados a saírem da sua zona de conforto e olharem a diante. Esquecerem as rinchas do passado e se organizarem para uma nova forma de convivência harmoniosa. Ou fazem isso ou serão engolidos pelo sistema. O capital é o que move o mundo, mas ele não sobrevive em si mesmo. O maior fracasso está no comodismo e a pior derrota é fugir da batalha.
 Não há nada que substitua uma boa educação, bons princípios, cordialidade e um belo sorriso. Afinal de contas, antes de sermos todos taxistas ou sermos todos passageiros, cada qual com seus direitos e deveres, penso que devamos ser..... Somos todos irmãos. 
Até a próxima.








quinta-feira, 16 de julho de 2015

Quanto vale um enterro?




Após a privatização dos cemitérios do Rio de Janeiro, uma coisa é certa. Ninguém consegue ser enterrado por menos de 3mil reais. Foi o que disse um agente funeral que transportei esses dias.
Não disse pra mim não. Disse para algum cliente que estava falando ao telefone. E disse muito mais!

Tratava-se de alguém que cometera suicídio em casa. Só que esse alguém tinha um seguro de vida e segundo o corretor funeral as seguradoras não pagam o prêmio em casos de suicídios. Imediatamente o homem liga para um médico do seu esquema de trabalho e avisa que tem um novo negócio e passaria por whatsapp o endereço que deveria ir para dar um laudo médico favorável a receber o seguro. Tudo acordado, o agente já liga pra um advogado preparar um contrato padrão que já iria passar em seguida para apanhá-lo e seguir para residência do óbito. Com todas as arestas acertadas, retorna a ligação para seu cliente avisando que estava tudo ceto. O preço do serviço seria 30% do valor do prêmio do seguro do falecido mais os custos funerais que seriam tratados pessoalmente.
Ambas as partes felizes e até o defunto creio eu, meu passageiro desceu do carro feliz da vida.
Diante de um fato desses o que dizer dos bastidores da política? Até a próxima.

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- Cientista Político - Graduado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO - Colaborador do ECOPOL - Núcleo de estudos econômicos e políticas públicas, nas relações entre Capital e Estado (Nelutas - UNIRIO)

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